Tomei conhecimento da noticia numa manhã; tinha
estado num congresso em Zaragoça, regressei a Beja de madrugada, ainda passei
pelo escritório para abrir o correio e o e-mail: dessa noite, recordo que vi
inumeros mails com o nome de João Luis Lopes dos Reis, mas não os li,
tendo-me limitado a enviar um exame pela net.
Foi, portanto, na manha seguinte, que tomei
conhecimento da notícia. Fiquei absolutamente estupefacto e uma lágrima
percorreu-me a face; escrevi qualquer coisa num mail, que ora não recordo.
Sei que depois saí do escritório e fui dar um passeio a pé.
Não conhecia o Dr.º João Luis Lopes dos Reis.
Apenas lhe reconhecia o talento, a inteligência a critica mordaz e
fundamentada.
Reli os mails que dele guardei. Com um sorriso
amargurado recordei que dele escrevi em 09-01/2004 que é "umas
das pessoas que mais admiro nesta lista e dos poucos com quem troquei
mails privados; não esqueço da sua disponibilidade, generosidade, paciência,
a critica mordaz e CONSTRUTIVA com que me auxiliou aquando da realização de
um meu trabalho. "
Reli também alguns mails privados que o Dr. João
Luis Lopes dos Reis me enviou: o carinho com que recordava o avô paterno e
dos filhos, a simplicidade do trato, o sentido crítico; esboçei um sorriso
quando recordei uma sua passagem em que me escrevia "Só
mais uma coisa: deixe lá o V.Exa., que é complicado e não dá jeito."
Não é verdade que todos sejamos iguais: há
aqueles que percorrem o mundo sem deixar marca e aqueles para quem bastam
pequenos momentos para nos marcar para sempre: se a Ciberjus é feita de
muitas pessoas, há algumas que são absolutamente insubstituíveis, que marca
a sua génese, que lhe dão uma razão de ser.
Se eu não conhecia o Dr João Luis Lopes dos
Reis e mesmo assim me marcou tanto, não consigo deixar de pensar na insuportável
saudade que deixou aqueles que puderam compartilhar a sua amizade, o prazer de
com ele percorrer um percurso comum. Se a muitos nos causa dor não mais
receber os seus mails, é inimaginável o sofrimento de quem teve o privilégio
de ser seu Amigo.
Ontem recordei-o a propósito de coisa nenhuma. E
senti-me amargurado por ser agnóstico. Pensei em como deve ser maravilhoso
ter a certeza que Algures ainda nos lê, nos ouve, se ri connosco: senti-me
triste por não saber de ciÊncia certa que um dia ainda poderia ter o privilégio
de me poder apresentar,de o conhecer, de lhe apertar a mão e dizer OBRIGADO.
Hugo Lança